Em algum momento de nossas vidas somos todos forçados a passar por alguma experiência que nos comove até as raízes. É uma experiência - à qual, por falta de um termo melhor, decidi chamar o momento de colapso do mundo...
Dr. CLÁUDIO NARANJO, na derradeira meditação que conduziu seus discípulos em Brasília, nos incentivou a "deixar cair o mundo" e com ele todas nossas crenças e conceitos, ilusões acalentadas, expectativas e medos.
Todo este mundo interno pessoal com suas projeções no mundo externo, cria um filtro perceptivo especialmente sensível ao que é desejável ou indesejável, de onde nascem nossas esperanças e aversões e assim, à cada nossa experiência, esse "mundo" a que insistimos sustentar recria e acentua nosso sentido de identidade falsa, sendo essa a verdadeira fonte de nossos sofrimentos.
Por acaso eu estava agora lendo um livro de John Welwood, também budista e encontrei esse mesmo ensinamento!
Porém, o texto de John Welwood abaixo, em vez de orientar uma prática intencional, nos alerta para algo que está sujeito a nos acontecer na vida. Quando isso nos acontece, o que John Welwood ensina aqui é como re-significar esse tipo comum de situação como uma grande oportunidade de crescimento, em vez de interpretarmos como algo desesperador ou indesejável.
Quando há aceitação não há necessidade de controle. Na ausência de julgamentos , sem a irritante pressão do querer corrigir um ao outro, cria-se um vínculo baseado na receptividade e na indefensividade. A entrega da própria intimidade em uma expressão autêntica que nutre o relacionamento. A parceria criativa é baseada na receptividade mútua.
Sergio Condé
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Texto de John Welwood: Em algum momento de nossas vidas somos todos forçados a passar por alguma experiência que nos comove até as raízes. É uma experiência - à qual, por falta de um termo melhor, decidi chamar o momento de colapso do mundo, algo que ninguém quer reconhecer e que tentamos ignorar submergindo-nos em nossas rotinas habituais. Para a existência e as tradições budistas, no entanto, a experiência em que o solo que nos sustenta parece desaparecer é uma experiência fundamental. Para o existencialismo é a fonte da angústia existencial, enquanto que, para o budismo, marca o começo do caminho que leva à iluminação, ao despertar ou à libertação.
O momento de colapso do mundo ocorre quando as fundações em que, até então, nossa vida descansou, inesperadamente colapsam. Tudo o que até então sustentava nossa vida perde sentido e deixa de nos interessar. Talvez antes nos preocupávamos com o sucesso, o dinheiro, com o desejo de sermos amados ou de alimentar nossa família, mas agora, de repente, começamos a questionar por que estávamos fazendo tudo isso.
Há pouco sentido em procurar alguma justificação absoluta e imutável e será inútil tentar apoiar os pés em terra firme, porque o que se sente é a arbitrariedade e nossa desesperada tentativa de encontrar algo e se agarrar, alguma certeza.
Quando as estruturas antigas colapsam e não temos nada para substituí-las, nossa sensibilidade é exacerbada, evidenciando uma fragilidade e uma ternura, que até então tentamos esconder ou disfarçar.
A prática da meditação permitiu que eu me familiarizasse com o fato de que, quando os adereços que sustentam nossa identidade desaparecem, nossa vulnerabilidade essencial se torna clara. Minha experiência como psicoterapeuta existencial e que praticou meditação durante muitos anos me permitiu apreciar em perspectiva a importância do colapso do mundo e o conseqüente surgimento de minha vulnerabilidade básica como uma porta de entrada para as qualidades mais profundas da natureza humana.
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